Mbanza Kongo - um lugar, muitas histórias


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:Um lugar entre dois mundos
paisagens de Mbanza Kongo



Bruno Pastre Máximo





População - 200.000 habitantes







“THE BANZA OR RESIDENCE OF THE KING OF KONGO CALLED S. SALVADOR.” - DAPPER, OLFERT. DESCRIPTION DE L’AFRIQUE. AMSTERDAM: W. WAESBERGE, BOOM ET VAN SOMEREN, 1686. PP. 343-344.




Vista de mbanza kongo - fotografia do autor - 08/2014











Diferença entre as interpretações kongo versus a científica





Perguntas:



•Como se articula e se configura a narrativa do governo de Angola?

•O QUE PENSAM E COMO VIVENCIAM O PASSADO OS GRUPOS QUE ESTÃO ATUALMENTE NA CIDADE PRESTES A SER PATRIMONIALIZADA MUNDIALMENTE?

•TERIAM SUAS NARRATIVAS TRADICIONAIS SIDO OUVIDAS E INCORPORADAS NA CONSTRUÇÃO DESTE PROJETO DE MONUMENTALIZAÇÃO?



Hipóteses



•Existe uma narrativa kongo sobre a cidade que se distância da historiografia e do projeto do governo.

•As populações locais não possuem abertura dentro do projeto de tombamento devido ao regime ditatorial angolano.



Capítulo 1 - Orientação teórica e metodológica - 2014





O conceito de paisagem ideativa (Ideational), cunhado por Knapp e Ashmore





(…) paisagem ideativa é tanto ‘imaginativa’ (no sentido de ser uma imagem mental de alguma coisa) e emocional (no sentido de cultivar ou extrair algum valor espiritual ou ideal). (…) ‘Ideativo’ deveria ser observado distinto de ‘ideológico’ e tem objetivo de ser mais amplo que ‘sagrado’ ou ‘simbólico’



Entendemos como uma paisagem que é primordialmente imaginada, pois existe materialmente e em sua totalidade somente nesta dimensão. Os vestígios materiais são ligações desta ideação com a realidade cotidiana das pessoas.



  • Materialidade
  • Individualidade x coletividade
  • Símbolos
  • Resiliência
  • Ponte entre dois mundos


O conceito de paisagem Construída





As construções na paisagem criam, significam, e marcam as populações que vivem ao seu entorno. Estas paisagens são significadas por crenças, visões de mundo, mitos e ideologias, que as têm como referencial, o que leva muitas vezes à busca pela reconstrução da paisagem por grupos contemporâneos, que tentam “congelar” o seu significado.



Capítulo 2 - Do Éden ao Inferno: A paisagem de S. Salvador e a busca de legitimidade portuguesa



S. Salvador é uma terra singular no fluir da história da Humanidade. Foi o primeiro centro urbano do hemisfério sul trazido à luz da cultura ocidental e foi também a primeira povoação a sul do equador a receber a luz do cristianismo e da civilização católica. [1]


[1] BATALHA, Fernando. Povoações históricas de Angola. Lisboa: Livros Horizonte, 2008. p. 12



Capítulo 3 – A ancestralidade kongo da paisagem de Mbanza Kongo



Capítulo 4 – O nacionalismo kongo e a luta por Mbanza Kongo



Capítulo 5 - Por bem vos digo a sincera verdade, somos nós é que sabemos a história do Congo e de Angola: o Ntotila no centro do conflito



Capítulo 6 – A tragédia de São Salvador do Congo/Mbanza Kongo



  • Realçar o reconhecimento Nacional e Internacional do valor histórico-cultural de Mbanza Kongo, antiga capital do Reino do Kongo;​
  • Torna a cidade um pólo turístico;
  • Valorizar a área cultural Kongo;
  • Tornar Mbanza Kongo como uma sede espiritual do Cristianismo enquanto realidade da matriz e identidade do Povo Angolano em geral e da população Kongo em particular.[1]


[1] DOMINGOS, Ziva. Preservação e Valorização do Património Arqueológico Angolano no Contexto Nacional e Mundial: Caso do sítio de Mbanza Kongo. Revista Tecnologia e Ambiente, Dossiê IX Jornadas de Arqueologia Iberoamericana e I Jornada de Arqueologia. Transatlântica, v. 19, n. 1, 2013, Criciúma, Santa Catarina. p. 267. Grifo nosso.




Segundo as pesquisas históricas, a capital foi fundada no século XII, e contou com a cooperação da Igreja Católica, conforme verificamos por meio da correspondência trocada entre o reino do Congo e o Vaticano. Há arquivos bastante ricos que falam deste componente religioso. Houve, também, cooperação política entre os reinos – locais e de Portugal; cooperação econômica proveniente do tráfico escravo; além da cooperação cultural com a Europa e com as Américas.[1]


[1] DOMINGOS, Ziva. Angola. In: PRATES, Andrea; SANTOS, Helena Mendes dos. Encontro Centro Lucio Costa (CLC) (...). p. 50.



CAPÍTULO 7 – O LUGAR DE ONDE VIEMOS E PARA ONDE VAMOS: A PAISAGEM DE MBANZA KONGO NO SÉCULO



Narrativa da Igreja Kimbanguista





"Em resumo, uma construção misteriosa cercada de segredos e que apareceu do dia para a noite sem participação humana. [...] Nkulumbimbi então, é a Catedral ante a qual foi morta a profetiza Kimpa Vita. Lugar sagrado onde os Mani-Kongo foram enterrados. "



Journal Mpata Ntatu n. 17 April 6, 2012.



Conclusões



  • Na perspectiva colonial, a cidade é uma paisagem construída, vista como uma relíquia de um passado de glória, um marco na presença portuguesa e cristã em África e no seu contato com os locais, um legado do passado para o presente em seu sentido original, congelado.

​

  • Na perspectiva kongo, a cidade é um ponto comum entre dois mundos concêntricos. A paisagem existe em dois planos sobrepostos, o primeiro é o plano físico, que consiste em uma cidade que está decadente, aculturada, desvirtuada e etc, e um segundo sobreposto no plano ideativo, que há uma cidade perfeita, de liberdade, de maravilhas, de esperança, da tradição. A ligação entre estes dois mundos, o ponto de intersecção entre os dois planos, são os lugares que apontamos como componentes da paisagem de Mbanza Kongo – Ntotila, Yala-Nkuwu e Kulumbimbi.




  • Da perspectiva da arqueologia da paisagem a contribuição para a historiografia é conseguir dar sentido ao conjunto de manifestações difusas existentes sobre e na cidade. Pessoas lutando contra o rei do kongo, lutando pela melhoria do espaço da cidade, lutando para limpar o cemitério dos reis, ou entronizar um Ntotila tradicional; tudo isso pode ser compreendido através de uma ferramenta analítica da arqueologia, que é a paisagem.


  • O problema do argumento para o tombamento de Mbanza Kongo, como um lugar colonial, atlântico e católico, não é ele em si, no sentido de que ele esteja equivocado em uma perspectiva histórica. É evidente que a cidade de Mbanza Kongo teve um papel crucial dentro do mundo atlântico, tanto como entreposto principal de pessoas escravizadas para o comércio para as Américas como lugar de criação de uma nova sociedade criola, um hibridismo entre o catolicismo e as religiões tradicionaiso, isso está fora de questão. A questão é que esse tipo de narrativa tende a valorizar e a sobrevalorizar um passado católico, cristão, que, no atual contexto político das populações kongo não é bem aceito, porque traz à memória a brutalidade do colonialismo, ou mesmo diverge da própria concepção cosmológica da cidade na sociedade.​